Neža Mlakar e Karmen Meze são amigas desde a infância. A sua ligação reacendeu-se em 2015 com a experiência partilhada da maternidade e os desafios que esta trouxe. A sua inspiração para La Popsi surgiu da tentativa de Neža de encontrar uma solução saudável para a dentição do seu filho em Las Vegas. Combinando fruta verdadeira congelada num pau, criaram uma alternativa mais saudável aos gelados açucarados. A sua ambição era construir uma marca que combinasse a sua paixão por gelados e fruta com uma alimentação saudável. No entanto, as realidades do empreendedorismo ensinaram-lhes os desafios de ter uma empresa. Apesar dos contratempos iniciais, o seu objetivo continua a ser fazer da La Popsi uma marca reconhecida internacionalmente.

• Falem-nos dos vossos antecedentes e da vossa história pessoal.

A Karmen e eu fomos as melhores amigas durante toda a nossa vida. Crescemos na mesma rua em Mengeš, na Eslovénia. Mas, em 2012, arranjei um emprego em Las Vegas e mudei-me para lá, por isso perdemos o contacto durante algum tempo. Mas depois, em 2015, ambas fomos mães pela primeira vez. Ela deu à luz o seu filho, Lian, na Eslovénia, e o meu filho Alexander nasceu em Las Vegas. De repente, voltámos a ter tanto em comum que começámos a telefonar uma à outra todos os dias pelo Skype (apesar de haver uma diferença horária de nove horas entre Las Vegas e a Eslovénia). Depois, um dia levei o Alexander ao médico (tinha 7 meses) para fazer um check-up. Tinha os dentes a nascer e as gengivas inflamadas. O médico disse que eu podia comprar-lhe um gelado com sabor a fruta para o ajudar a refrescar a inflamação, pois a fruta também continha vitaminas saudáveis. Mas eu não conseguia encontrar um produto que fosse adequado para um bebé que está a começar a comer. Os produtos que encontrava no mercado eram todos muito açucarados ou continham xarope de milho, aditivos, etc. Então, disse à Karmen que, apesar de o médico me ter dado esta grande ideia, ainda não conseguia encontrar um produto adequado para o meu filho. A resposta dela foi: "oh, vá lá Neža, compra fruta fresca, mistura-a, põe-na num palito e dá-lha". E é isso que La Popsi é agora. É fruta verdadeira que se derrete. Pegámos em fruta, misturámo-la, pusemo-la num pau, congelámo-la e criámos os gelados 😊.

• O que vos inspirou a criar as vossas empresas e como surgiu o conceito das vossas empresas?

Desde que vivi nos EUA, tinha o desejo de um dia regressar à Eslovénia para criar o meu filho. E a Karmen queria ter a sua própria pastelaria. Mas depois, a ideia de produzir gelados foi tão fantástica que ambos decidimos começar a vender um produto que ainda não estava no mercado - um produto que é saudável mas que não compromete o sabor. Algo de que toda a gente gosta - gelado e fruta combinados. E não se tratava apenas do produto. Sonhávamos em ter um negócio para sermos os nossos próprios patrões (desta forma, temos a liberdade de planear o nosso dia como quisermos). Como estávamos enganados! Para começar, trabalhámos muito mais do que teríamos trabalhado se tivéssemos sido empregados de outra pessoa. Esquecemo-nos por um minuto que, quando se é dono de uma empresa, se é responsável por tudo e por todos - que tudo depende de nós. Que não há ninguém que faça o nosso trabalho se ficarmos doentes ou se estivermos cansados num determinado dia. Que nada acontece se não o fizeres tu mesmo. E, por vezes, esquece-se que a sua empresa é como ter um filho. Enquanto ainda é pequena, há pequenos problemas. Mas quando começa a crescer, os problemas também crescem. Mas se tivermos um sonho, devemos persegui-lo, porque o sonho não nos vai perseguir. E o nosso sonho é que a La Popsi se torne um dia numa marca internacional bem conhecida de gelados.

• De que forma é que a propriedade intelectual (PI) se alinha com os seus objectivos e metas empresariais?

Vivemos num mundo estranho. Ouvimos tantas histórias em que os proprietários de pequenas empresas tiveram ideias fantásticas e apresentaram-nas aos grandes actores e, de repente, as suas ideias foram roubadas. Por isso, de certa forma, épreciso proteger as nossas ideias, a nossa marca e a nós próprios, e ter a nossa marca registada dá-nos alguma paz de espírito. Mesmo que alguém roube as nossas ideias, podemos pelo menos reagir e fazer alguma coisa.

• Quais são os seus direitos de propriedade intelectual? Como é que descobriu o que era a PI e como é que aprendeu o que precisava de fazer para proteger o(s) seu(s) negócio(s)/marca?

No início, La Popsi era uma empresa tão pequena que nem sequer pensámos em proteger a nossa marca. Mas pouco tempo depois, tivemos a oportunidade de vender na cadeia de retalho Spar, na Eslovénia. Assim, a La Popsi tornou-se muito acessível e cada vez mais reconhecida pelos consumidores de toda a Eslovénia. Nessa altura, tínhamos um mentor e ele sugeriu que protegêssemos a marca. Decidimos, então, registar a marca no mercado esloveno para garantir que a nossa ideia continuava a ser nossa e só nossa. Até essa altura, nem sequer tínhamos sonhado em entrar em mercados estrangeiros, uma vez que estávamos tão empenhados em conquistar primeiro o nosso próprio mercado nacional. Por isso, pensámos que seria suficiente ter uma proteção apenas na Eslovénia. Mas, um ano mais tarde, introduzimos a La Popsi no mercado austríaco e, a partir daí, começámos a registar a nossa marca em toda a UE.

• Enquanto empresárias, depararam-se com alguns desafios específicos e como lidam com eles?

Começámos a nossa empresa quando tínhamos 20 anos. Ser jovem na indústria alimentar não é uma vantagem. Mas ser uma mulher jovem é ainda mais difícil. Penso que, no início, ninguém nos levou a sério. Acho que pensaram que éramos apenas duas jovens a tentar vender um gelado giro e todos pensaram que íamos desistir assim que nos apercebêssemos de como era difícil ter sucesso. Mas nós somos lutadoras e não desistimos. Provámos que tudo é possível e que não iríamos desistir. Talvez agora seja um pouco mais fácil podermos mostrar alguns resultados aos nossos potenciais parceiros, mas continua a ser um desafio. Ser uma mulher no mundo dos negócios nunca é fácil, seja qual for o sector, e é preciso esforçar-se mais em cada negócio que se faz. Mas isso não deve impedir ninguém de ter uma empresa. Só nos torna mais fortes 😊.

• Que medidas acredita que podem ser tomadas para capacitar e inspirar as mulheres empresárias?

Estamos em 2024 e o ambiente já está a apoiar as mulheres muito mais do que nunca. Eu diria que não há nada a temer. Se estivermos preparados para trabalhar pelo que queremos, nada nos pode parar. E as mulheres têm uma certa intuição, que pode ser utilizada em nosso proveito 😉.

• Que conselhos daria a outras mulheres aspirantes a inovadoras que estejam a pensar em criar a sua própria empresa?

Eu diria para serem corajosas. Fazer o maior número de perguntas possível. Ter consciência de que há sempre alguém que pode ajudar. Nunca deixem de aprender. Nunca se está sozinho. Saibam quais são as vossas prioridades. Continuar a sonhar e lembrar-se de que perder a paciência significa perder a batalha (Sun Zu).

• Quais são as competências necessárias para que qualquer empresário, especialmente as mulheres, seja bem sucedido no seu percurso empresarial?

Eu diria que a competência mais importante é a curiosidade. No mundo dos negócios há tanto para aprender que, se não formos curiosos, provavelmente estaremos sempre sob muito stress. A segunda coisa que eu diria é "adaptabilidade". Penso que, desde que sou proprietário de uma empresa, não houve uma única coisa que tenha corrido como planeado. Por isso, a capacidade de adaptação relativamente rápida às circunstâncias em mudança é fundamental. E, claro, é preciso ser corajoso. É preciso coragem para tentar, falhar e voltar a pôr-se de pé.

• Quais são as suas aspirações futuras? Onde é que imaginam a vossa empresa daqui a dez anos?

Queremos que a La Popsi se torne uma marca internacional bem conhecida de gelados. Estamos a trabalhar arduamente para entrar em novos mercados, encontrar parceiros estratégicos, criar novos produtos e queremos divertir-nos enquanto o fazemos. Queremos fazer uma pequena mas significativa mudança no mundo, oferecendo estas alternativas saudáveis e encorajando os nossos clientes a comprarem melhores alimentos para os seus filhos.